sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Conto - introdução a saga obelisco dos Deuses Ancestrais

O Grupo Sortudo, mas nada coeso.


   - Será que conseguiremos comprar um cavalo melhor com a recompensa? - perguntou Cristor para Gorim, que meramente se limitou a olhar para o rapaz e depois para a mula, mas antes mesmo da pensar em qualquer reposta Cristor continuou.
    - Não que eu não goste dela, mas acho ela já está velha demais para nos acompanhar - acrescentou dando um leve tapinha no flanco do animal em questão que puxava a carcaça do urso.
    Ao lado de Cristor, Gorim era imenso e apesar de não ser tão experiente a cicatriz no rosto o dava uma imagem intimidadora, assim como sua forma de combater que faria alguns guerreiros inexperientes tremerem. Cristor ao contrario era franzino e astuto, mesmo que tendo dito ser um guerreiro, quebrou toda a desconfiança do grupo com seu modo leve de andar e a inteligência aguçada durante a caça ao urso, agora todos tinham a certeza que na verdade se tratava de um ladino com medo do preconceito das pessoas sobre sua vocação, se sentiu obrigado a mentir sobre isso quando se candidatou a participar da incursão do grupo, unido para livrar os aldeões do vilarejo da fera que estava atacando o gado e não demoraria a ter camponeses mortos pelo urso que estranhamente se aproximou demais da civilização.
    Gorim sabiamente buscou ajuda para se defender dos hábeis argumentos do jovem ladino olhando para os demais companheiros, primeiramente olhou para Samira, a maga, mas ela não poderia ajudar pois estava perdida em seus pensamentos, mexendo os lábios e os dedos como em cálculos intermináveis, provavelmente ela estava se preparando para negociar com o senhor das terras que ofereceu recompensa pela pele do urso que abateu algumas cabeças de gado.
    Depois Gorim virou a cabeça para o outro lado fitando por cima dos ombros em busca de apoio do clérigo Doeram, mas este olhava a paisagem de forma solene e Gorim sabia que o amigo também se perdera em sua própria mente em oração ao seu Deus.
   Gorim suspirou tomando coragem para verbalizar com o astuto Cristor, mas antes de abrir a boca o próprio Cristor alarmou olhando para frente.
   - Pela barba do Oraculo, o que pode ser aquilo? - Cristor largou a mula e correu para frente, o outros o acompanharam apertando o passo para chegar onde ele parou bem em frente a uma pedra translucida suja de terra, da largura de um homem e mais alta que Gorim que se afunilava cada vez mais para o alto e se finalizava pontuda.
   - De onde será que isso veio? Não estava aqui ontem quando passamos nesta estrada. Isso é um grande diamante? Será que caiu o céu? - Dizia o jovem ladino, eufórico e exaltado, quase aos berros.
   - Pare de gritar como uma galinha, seu pirralho! - ordenou rispidamente Samira. - Sujo desse jeito, é mais provável que tenha brotado da terra, mas não vejo rachaduras, logo algo assim não brotaria de forma natural, nem sentimos tremores. é magico sem dúvida.
   - Não toque nisso! - Disse de forma imponente o clérigo Doeram para Cristor, que erguera a mão em menção a tirar o excesso de terra para ver melhor.
   - Mas...
   - Sem mas! Não ouviu Samira falar que é mágico, não sabemos que diabruras podem estar por trás deste
aparecimento repentino... - o Clérigo fez uma curta pausa para respirar, olhou em volta, depois voltou a olhar fixo para a pedra, falou o nome do seu Deus sem emitir sons com a boca. - A forma desta pedra me lembra algo, que ainda não estou convencido, não sinto o mal vindo disto, mas todo cuidado é pouco. Gorim pegue um galho daquele arbusto ali e limpe essa terra para nós por gentileza, creio que encontraremos escrituras indecifráveis embaixo deste acumulo de terra aqui.
   Sem dizer uma palavra Gorim obedeceu o clérigo, mas Cristor mais rápido e mais espontâneo que o guerreiro correu na frente sacando a adaga dizendo "deixa comigo" e gorim simplesmente parou e voltou para seu lugar de origem, enquanto isso Samira e Doeram trocaram palavras curtas.
   - Isso é um obelisco. - afirmou ela.
   - Sim, mas quero ter certeza que é igual aos que vemos nas praças das cidades antigas e castelos perdidos.
    Na mesma velocidade que foi retornou o ladino, com um galho não muito curto cheio de folhas verdes para servir de uma vassoura improvisada. Ele cutucou a pedra inicialmente de leve e com muito cuidado e ao passo que nada acontecia de especial foi se enchendo de coragem e espanou cada vez om mais vigor ansioso por terminar o serviço e ver a beleza do obelisco, que apresentava as escrituras perdidas em um dos lados e a marca de um mão, tudo em baixo relevo, como uma joia gigante e esculpida com delicadeza e perfeição. Cristor se emocionou, as lágrimas rolaram no seu rosto sujo de terra espanada do obelisco, mas lagrimas de sonho alcançado rapidamente, mal começara a carreira de aventureiro e se tornara rico, pois como ele calculou, uma joia daquela daria a ele um castelo e muitas terra, o próprio rei seria menos rico do que ele, em seu devaneio, esta se vendo em um salão suntuoso cheio de criadas a lhe paparicar todos os caprichoso e cercado de guerreiros fortes prontos para lhe proteger de qualquer mal. O jovem ladino, muito ambicioso ria e chorava, não se contendo quando terminou de limpar todo o obelisco.
   - Estou rico!!! - urrou ele que apesar de cansado deu um saltinho de alegria, mas percebendo os olhares de reprovação dos demais, se corrigiu - Estamos ricos... - e mostrou os dentes em um sorriso sem graça.

   O tempo passava de vagar, uma hora pareceu dois dias. Um debate filosófico com palavras difíceis era travado entre a miúda Samira e o magro e alongado Doeram, a mula pastava ainda aflita e com as orelhas voltadas para carcaça e o cheiro do predador morto já atraia moscas. Apesar de ter tirado o excesso de bagagem das costas Gorim continuava atento, olhando de semblante fechado, revesava a atenção entre os dois lados da estrada e o obelisco, mão posta no pomo da espada, em guarda. A euforia se transformou em aflição em Cristor, que sentado fora da estrada, passava a mão repetidamente na grama, se perguntando porque não andava sempre com uma carroça e um pá. O clima começou a mudar, o vento ficou um pouco mais forte e frio e nuvens vinham rápido do norte grande e cinza, um mal sinal.
   - E então?! - Cristor tentou acelerar o processo da discussão.
   - Vamos deixa-lo ai,como está! - retrucou o clérigo, sem paciência, a maga abaixou a cabeça também irritada.
   - Como?!?! - o ladino ficou atônito e incrédulo, depois foi tomado por abominação e ira, mas ainda assim paralisado sem sentir as pernas.
   - Ainda não decidimos sobre isso Doeram! - bradou a maga de forma enérgica, agora com o dedo em riste, que apesar de muito mais baixa, seu dedo quase dentro do rosto do clérigo, este estufou o peito em desafio, encheu o pulmão de ar para gritar, mas algo passou pala sua cabeça, ele bufou e mudou de semblante.
   Em meio aos protestos, maldições e xingamentos da maga que ele já não ouvia, viu Gorim, que durante o debate analisou a seu modo o obelisco principalmente a parte da marca da mão, agora Gorim estava com a mão direita posta em cima desta marca no obelisco, em silêncio fora do alcance da atenção dos outros, rosto vermelho, olhos abertos e virados para cima, corpo tenso, mesmo assim não parecia dor.
   Os joelhos do guerreiro se curvaram e ele caiu. Os amigos correram para acudi-lo.
   Para o clérigo ficou bem claro que Gorim não tinha apenas tocado um obelisco, mas algo muito maior que o havia tocado.

Continua...


 

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